quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma mulher, quem diria...

João da Costa Vital

Tenho como hábito, nos últimos oito anos, ler apenas um jornal de São Paulo e uma das revistas, preferencialmente a Folha de São Paulo e a Isto É e, da imprensa local, o admirável e sério jornal A Gazeta, mas neste janeiro de 2011, ou melhor, durante os derradeiros dias do mês de dezembro próximo passado, tenho comprado quase todos os jornais e revistas locais e nacionais. E quem se vê com sua foto estampada e os artigos dando-lhes especial divulgação? O presidente que nos deixou recentemente e a sua sucessora no Palácio do Planalto, Lula e a Dilma Rousseff. Muito chique. Leio os textos dos renomados articulistas a respeito da nossa inédita presidente. Fico a monologar: quem diria que isso iria acontecer na vida política de um país machista, aonde a mulher, mesmo tendo o direito de participação direta em candidatura política, não consegue sequer preencher os 25% das vagas que tem direito, não só por culpa dos homens, sabemos que a própria mulher brasileira não gosta de votar na mulher. E no próprio lar a mulher vem sendo vilipendiada, massacrada, espancada às vezes pelo próprio marido e filhos. Mas com Dilma presidente, acredito que a mulher será vista com outros olhos.
Ao que tudo indica, após derrotar em dois turnos um político profissional, que já exerceu quase todos os cargos públicos, exceto a Presidência da República, a Dilma demonstrou estar preparada a segurar as rédeas do "cavalo administrativo" chamado Brasil e fazer talvez o que muitos homens não fizeram durante mais de quinhentos anos, ou seja, com a maioria no Congresso tentar fazer uma reforma da Constituição, retirando os amplos poderes do Legislativo que aumenta escandalosamente os seus salários, assalta o erário público e com a imunidade e foro privilegiado não vai para a cadeia; e promover a reforma tributária sem abandonar os programas sociais tão bem propiciados pelo governo Lula. Entendo que o povo brasileiro está votando bem para o Executivo, mas vota totalmente errado para o Legislativo.
A mulher, enfim, ganha espaço na vida política. Quem diria que neste país de forte teor discriminatório pudesse eleger um metalúrgico e em seguida quebrar o mais alvissareiro paradigma elegendo uma mulher que foi completamente marginalizada e torturada pela revolução de 1964. Por ocasião da campanha eleitoral de 2010, sofrera uma desalmada injúria, vítima dos machistas e ignorantes, que numa infame inversão de valores chamaram-na de guerrilheira à mão armada, assaltante de bancos e matadora de criancinhas. A mulher sempre foi forte frente às adversidades ao longo do tempo. O filósofo Aristóteles dizia que: "quando a natureza erra na fabricação de um homem, nasce uma mulher".
Deixemos de lado essa história de se inferiorizar a mulher. Se ainda não houve uma compositora no nível de um Beethoven, uma pintora que se igualasse a da Vince ou uma filósofa tão importante quanto o Sócrates, a culpa não é da mulher, mas sim da política restritiva e discriminatória que lhe fora imposta. Mas quem diria após todo esse tempo de discriminação, elegermos Dilma Rousseff. É o Brasil com um novo olhar. 

João da Costa Vital é contador, pedagogo, jornalista, analista político e escreve às quartas-feiras em A Gazeta. E-mail: joaocvital@pop.com.br

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Às mulheres o seu espaço

Fonte: gazeta digital

Um programa desenvolvido pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres vem, aos poucos e sutilmente, inserindo a mão-de-obra feminina no mercado de trabalho. Intitulado Programa Pró-Equidade de Gênero, ele consiste em desenvolver novas concepções na gestão de pessoas e na cultura organizacional para alcançar a equidade de gênero no mundo de trabalho. Trocando em miúdos, oportunidades iguais de acesso e ascensão, tais quais as dos homens. Além disso, contempla eliminar todas as formas de discriminação, principalmente no que se refere à remuneração e permanência no emprego, hoje sabiamente dois obstáculos enfrentados pelas mulheres e comprovados oficialmente em levantamentos nacionais.
De acordo com o recém-concluído Censo 2010, do IBGE, existem hoje 3,9 milhões de mulheres a mais que homens no país. São, ao todo, 97.342.162 mulheres e 93.390.532 homens. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE de 2006, seja no setor público ou privado, as mulheres ocupam principalmente a base da pirâmide em cargos de menor qualificação e remuneração. Já o rendimento médio das mulheres corresponde a apenas 65,6% do rendimento dos homens.
A primeira edição do programa, lançado para o biênio 2005/2006, foi dirigida apenas às empresas e instituições públicas e teve a adesão de 16 organizações. Destas, 11 cumpriram as metas e receberam o selo Pró-Equidade de Gênero no final de 2006. A segunda edição (biênio 2007/2008) abriu a participação às empresas privadas e registrou 100% de crescimento no número de organizações participantes. Em dezembro do ano passado, das 88 organizações que se inscreveram, 71 participaram do programa e 58 receberam o selo. Destas organizações participantes, 29% são do setor de minas e energia, 28% da administração pública direta e 43% são de outros setores.
A atual titular da pasta, ministra Iriny Lopes, assumiu o cargo no início do ano frisando, em seu discurso, o "tratamento decisivo" ao enfrentamento à violência contra a mulher e ainda não acenou para o prosseguimento do programa. Ao longo de todos estes anos, ele pode ter passado despercebido da grande maioria da população, mas o seu resultado é importante para garantir que haja um mínimo de igualdade em uma sociedade ainda tão desigual.
O Brasil é um país de contrastes, como há muito se sabe, mas há alguns deles que, apesar de menos visíveis, representam entraves no desenvolvimento da nação como um todo, seja ele social ou econômico. Entre estes entraves está o tratamento diferenciado aos negros e brancos, às mulheres negras e às brancas, aos integrantes das diferentes classes, aos homens e mulheres. Iniciativas como estas precisam ter continuidade e contar com a adesão voluntária de um número cada vez maior de empresas, tanto públicas quanto privadas, para que o conceito de equidade (não apenas de gênero) saia do papel e vire prática, consolidando uma das 13 diretrizes propostas pela presidente eleita Dilma Rousseff, que é o de "promover a igualdade, com garantia de futuro para os setores discriminados na sociedade".